O Som do Tempo ou tudo que se dá a ouvir
O SOM DO TEMPO é uma instalação realizada no Paço Imperial, residência da Coroa Portuguesa no Rio de Janeiro.
Resultado de 6 anos de pesquisa sobre os sinos , a memória, a história e o tempo.
Seis igrejas circundam o Paço Imperial.
O SOM DO TEMPO ou tudo que se dá a ouvir é uma instalação de badalos de sinos quebrados de dimensões variadas presos às paredes do espaço expositivo, Logo abaixo dos badalos ergue-se uma pirâmide com 1,80m (ou 7 palmos) de terra negra e 50kg de areia dourada, soterrando uma cadeira de alto espaldar. Pela instalação são exibidos três vídeos de 7 horas cada. Cada vídeo traz uma memória a partir da constituição familiar da artista como um microcosmo étnico do povo brasileiro:
A memória ouvida e testemunhada: da avó alemã. A memória apropriada construída através dos outros: da avó manauara, que a artista desconhece. E a memória do transe, do delírio
A instalação transborda as paredes do espaço expositivo quando é ativado pelo som da cidade: todos estes vídeos estão sincronizados aos sinos das igrejas no entorno, a cada meia hora quando soam os sinos das igrejas ao redor as imagens congelam e emudecem, e a cada hora, as imagens e o som se apagam, deixando o espectador frente ao gigantesco aterramento.
O primeiro vídeo apresenta trechos do longa No Paiz das Amazonas de 1921. Produzido por Silvino Santos, primeiro fotógrafo e cinegrafista brasileiro a captar na primeira metade do século XX importantes e controversos registros visuais da Amazônia. Construindo uma realidade encomendada, o cineasta, ligado às elites locais de comerciantes e governantes, retratou a continuidade da política de colonização do Brasil. Mesmo ignorando questões como o extermínio étnico dos indígenas vistos como entraves ao progresso, Silvino traz imagens da vasta exploração da natureza da região e da mão-de-obra local. O longa, visto hoje como um filme político, foi apropriado e editado pela artista, intercalando seus trechos com imagens de vídeos de outros artistas. Imagens reais e oníricas se misturam num devaneio.
Seu som, traz o trabalho do artista de Hong Kong, Samson Young, produzido através do prêmio Art Bazel BMW, veiculado na Radio Documenta 14, com sinos de 11 países por onde viajou. Uma memória apropriada, construída através do olhar dos outros.
O Segundo vídeo apresenta a viagem à Ullersdorf an der Biele1 e de minha mãe 20 anos antes. Uma história ouvida e vivida, mas que permanece congelada num tempo romântico.
O último vídeo apresenta um pequeno estábulo de animais na Polônia com o teto formado por abóbodas, onde andorinhas fizeram seus ninhos. O vídeo tem duas velocidades correndo também em câmera lenta.Imagens de uma memória de transe e delírio.
Ao, através do badalar dos sinos do Centro da cidade, sincronizar e relacionar as memórias de sua história pessoal à memória histórica de colonização do País, a artista perverte o tempo cronológico, atualizando e questionando a “evolução” dos projetos de progresso e desenvolvimento adotados.