Partita I – vista da exposição Mobilité-Immobilité
PROJETO TEMPO MÓVEL desenvolvido na residência artística Echangeur22, Saint-Laurent-des-Arbres, França
A partir do badalar dos sinos da cidade, construir uma instalação composta de uma composição musical, vídeos e objetos/elementos. A sequência desta composição será determinada pela memória das pessoas que passam e ouvem os sinos: 1)Escolherei aleatoriamente passantes e perguntarei que lembranças tem quando os sinos tocam, filmando-os neste momento, assim como gravando o som do badalar. 2)Distribuirei estas lembranças no tempo de recordação de cada um. Criando uma linha do tempo de memórias. 3)Cada gravação do som do sino, que corresponde à uma memória, será organizada de acordo com esta linha do tempo, o que estabelecerá a sequência dos sons na composição. 4)Os vídeos das entrevistas serão editados e as memórias, assim como a história dos sinos que deram origem às lembranças, serão transformados em objetos/elementos presentes na instalação. O alcance auditivo dos sinos define territórios, separando uma comunidade de outra ao longo de irregulares linhas culturais, religiosas ou ideológicas. Os sinos também conectam os indivíduos. Quando soam, seu tom e plenitude de volume tornam-se fontes de orgulho e lembranças coletivas, assim como memórias particulares. Dizem, que por seu cunho histórico, os sinos tem o poder de diminuir o tempo entre passado, presente e futuro num momento de suspensão. Em contraste, o badalar dos sinos também anunciam circularmente as horas de trabalho e as obrigações impostas pelo cotidiano. No Brasil escravagista, apesar dos sinos serem tangidos pelos escravos que traziam a herança africana aos toques, o tempo era percebido de forma dissonante entre dominados e dominadores, exaltando o sentimento de não-pertencimento. Ao choque da escravização e do desenraizamento se juntava essa diferença cognitiva: os escravos afirmavam que não sabiam medir o tempo, ou conheciam o tempo de forma diversa do branco. Walter Benjamin distingue o tempo do trabalho cotidiano, homogêneo da rotina, determinado pelos sinos das horas, esvaziado de vida, do tempo ritmado pelo som dos sinos das festas. O tempo homogêneo e vazio é preenchido como um recipiente, que amontoa indiferentemente os trabalhos e os dias. O tempo histórico marca o tempo como dias de recordação, pontos cheios que capturam e coagulam o presente, passado e futuro. O tempo histórico, da memória, é a transgressão do tempo natural.
O processo de transcrição de memória ouvida para seu lugar na linha do tempo e a consequente alocação do som do badalar do sino daquele momento na composição sonora, fez surgir uma partitura. os seixos característicos da região, que já foi banhada pelo mar, assumiram com sua memória o papel das notas.
Lápis sobre papel e pedras.
100X300cm
project #4 / 2019. Echangeur 22